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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O ANO SABÁTICO

A longa pausa entre a postagem anterior e essa mais recente é o resultado, dentre outros motivos,do meu convencimento, ainda que temporário, de que eu não sei escrever ou de que não há nada a ser dito que não o tenha sido por gente infintitamente melhor do que eu.
Mas então eis que hoje, numa das minhas corriqueiras crisisnhas existenciais, vem à superfície, trazido não sei por que acaso, o trecho de um livro lido há tanto tempo que eu imaginava que todas as suas impressões, na época da leitura tão intensas, tivessem esmaecido sob o tumulto de impressões e lembranças mais recentes (o que mais uma vez mostra que o Proust tem razão quando fala da memória involuntária, aquela memória que, por um objeto ou sensação insuspeita, pode de repente desenrolar o torvelinho das nossas lembranaças mais recônditas). Pois bem o autor do tal trecho é o alemão Rilke, cuja obra poética eu conheço pouquíssimo diga-se de passagem, mas que ficou marcado na minha vida como o autor do célebre raciocínio segundo o qual um poeta só é poeta de verdade quando não pode prescindir da escrita, sua razão de viver ou morrer. E não que eu queira equivaler-me à altura vertiginosa do "autêntico poeta" pintado por Rilke, mas é que essa tarde eu conclui simplesmente que, quando eu não escrevo, eu apodreço de tédio, na vida pasmaceira que é a vida dos fatos.
Por fim, me ocorre agora que esse preâmbulo talvez seja menos a tentativa de dar conta desse lapso de tempo enorme do que a busca de uma resposta para pergunta que, mesmo inarticulada, sempre se insinua: pra que escrever? Num caso e noutro, as tentativas de explicação racional e ponderada são antes uma forma de falseaar do que de apreender os tácitos motivos que movimentam esses trechos inauditos de nossas vidas íntimas. E isso, caros, já é matéria que ultrapassa os estreitos limites desse esforço de racionalização, para se converter em matéria-prima da Arte e da imaginação. Vamos até elas então.

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